No shopping (capa do romance)
romance, 2000

Minha estreia literária foi com No Shopping, romance de 76 páginas publicado pela editora 7Letras em setembro de 2000 (há quem o chame de “novela”). Eu estava com 17 anos e tinha demorado um ano para escrever o livro, que tem uma linguagem experimental, com frases curtas e muitos cortes.

Jorge Viveiros de Castro, o editor, bancou a edição e apostou certo: o livro foi adotado por escolas, obteve um espaço bom na mídia e esgotou primeira e segunda tiragem, chegando à terceira.

Sinopse

Cinco adolescentes – Delia, Yuri, Juliana, Lino e Selena – circulam pelo shopping center que abriu perto de sua escola. Cada um tem uma posição na “cadeia alimentar” escolar, posição esta que pode oscilar violentamente de um dia pro outro. Seus encontros e desencontros funcionam como metáforas para as relações entre poderes dentro do capitalismo.

trecho do livro

Delia entrou no templo, contrita. Examinou os grandes vitrais coloridos, límpidos, e suspirou à vista das imagens gloriosas. Havia uma música suave no ar.

Pessoas saíam, já tendo contribuído financeiramente para a obra. Caminhou até descobrir onde é que confessaria seu pecado capital: a Gula.

– Um de baunilha com chocolate.
– Oitenta centavos.
(herege!)
[…]Escoltada por um segurança, passou pelo saguão onde costumava subir. Só que desceu, chegando ao submundo.
Bafo tirânico do verão; ali não havia ar-condicionado.
Desceram uma escada rolante.
Desceram outra escada rolante.

Subsolo 2. Uma fonte horrenda, remanescente dos anos 80, não funcionando, sob a escada. Parte coberta de uns ladrilhos minúsculos, verdes. Faltavam muitos, caídos.

– João? O telefone já tá funcionando? Ainda não… vamos ter que descer mais, garota.
Take me down… baby… – cantarolou Delia, fechando os olhos em total virtuosismo cínico.
Se você está interessado em saber, ele não pensou em nada. Delia pensa demais.
Escada de cimento. Degraus tortos. Cheiro de lixo. Mais calor. Fluxo de empregados e máquinas. Entravam. Saíam.
Atravessaram um pátio cimentado. Delia não resistiu:
– Então é assim embaixo do Shopping… moço?